Escritor Adilson Fontoura
Ah, poesia!
Se ainda és
minha, por que escapas,
então, das
minhas mãos,
assim tão
depressa, tão insensata,
como se de mim
não dependesse
para ser
criada? Como os filhos,
cujas mães
dedicadas, os criam
com tamanho
carinho,
para serem no
porvir cidadãos
virtuosos; mas
tão céleres,
eles se acham
maduros antes
do tempo
natural; como uma
fruta verde,
colhida antes
que
amadurecesse,
na intimidade
silenciosa
da noite
presenteada,
com o clarão
esplendoroso
do luar; e vais
assim, poesia,
escapando
sorrateira das minhas
mãos tão
poéticas, sem preocupar-se
com o apuro
formal de quem
a compõe,
fluindo como um rio
caudaloso por
entre a floresta
espessa, avançando
enfurecido
à sua foz, para
expelir em clímax,
o doce líquido,
misturando-se
prazerosamente
com as águas
salgadas do
mar. Ah, poesia!
Por que foges
assim, de sua própria
criação, como
se não sentisse
satisfação em
ser criada?
Como algumas
mulheres insensíveis
ao ato nobre de
dar à luz,
que durante a
gestação, decidem
expelir o feto
em formação;
mas deves sim,
poesia, esperar
com abnegada
resignação,
a sua criação
poética gradual;
porque antes de
aconchegar-se
em minhas mãos,
bem sabes
que ainda és
nascitura na fonte
criadora
consciente; e dela deves
nutrir-se dos
fragmentos
das palavras
versejadas livremente,
para que depois
possas desabrochar
tão graciosa
quanto à flor,
que exala na
amena manhã
primaveril,
oriundo dos jardins
urbanos ou dos
campos
silvestres, tão
suave aroma,
que te enche da
singeleza lírica,
que te faz
merecedora em ser
uma autêntica
poesia; composta
pelo poeta que
agora, já se despedes
de ti; porque
agora sim, já podes
ir, poesia;
decerto, já não posso
mais insistir
em ter-te; visto que,
a inspiração em
compor-te
chegou ao fim;
enfim, pertences
agora ao
leitor, que já te espera
desejoso para
ler-te,
ó tão abençoada
poesia!
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