Morar no Brasil é 'sonho' internacional
Bruna Almeida/Estadão
"Brasil é o único da América Latina, o
único Bric e a única nação ocidental em desenvolvimento"
O Brasil é um dos 12 países mais cobiçados
para se morar, segundo uma série de pesquisas feitas em 65 nações pelo WIN -
coletivo dos principais institutos de pesquisa do mundo - e tabulada pelo
Estadão Dados. O crescimento econômico na última década, aliado à boa imagem
cultural do País no exterior, fizeram com que o Brasil fosse citado como
destino dos sonhos por moradores de dois em cada três países onde foi feito o
estudo.
Na lista dos destinos mais cobiçados por quem
não está feliz na terra natal, o Brasil é o único da América Latina, o único
Bric (grupo formado por Brasil, Rússia, China e Índia) e a única nação
ocidental em desenvolvimento. As pesquisas foram feitas no fim do ano passado e
ouviram mais de 66 mil pessoas ao redor do globo. Elas foram questionadas se
gostariam de morar no exterior se, hipoteticamente, não tivessem problemas como
mudanças ou vistos e qual local elas escolheriam. Por isso, os resultados dizem
mais sobre a imagem dos destinos mencionados do que com imigrantes em
potencial.
Se esse desejo virasse realidade, o Brasil
receberia em torno de 78 milhões de imigrantes nesse cenário hipotético. Mas,
em um mundo sem fronteiras, a população do País diminuiria - 94 milhões de
brasileiros se mudariam para outras nações, se pudessem. Ainda assim, 53% dos
brasileiros não desejam emigrar, porcentual acima da media mundial.
Quem mais tem vontade de vir para o Brasil são
os argentinos: 6% se mudariam para cá se tivessem a chance. O Brasil também
está entre os cinco mais cobiçados por peruanos e mexicanos. Mas não são apenas
latinos que gostariam de viver aqui. Os portugueses acham o Brasil mais
atrativo do que a Alemanha, os italianos o preferem à França, os australianos o
consideram o segundo país mais desejável, os libaneses o colocam em posição tão
alta quanto a Suíça e até no longínquo Azerbaijão o Brasil aparece entre os
quatro destinos mais sonhados, na frente até dos Estados Unidos.
Liderança. Os EUA são, previsivelmente, o
destino mais desejado por quem quer imigrar no mundo. O ranking segue com
outros países ricos, como Canadá, Austrália e nações da Europa ocidental.
Quebram a hegemonia das grandes potências apenas Brasil, Arábia Saudita e
Emirados Árabes Unidos - os dois últimos, não por acaso, países de renda alta
por causa do petróleo e destino desejado principalmente por muçulmanos. De
todos esses países, o único que não tem histórico recente de imigração
considerável é justamente o Brasil.
Para Alberto Pfeifer, professor de Relações
Internacionais da Universidade de São Paulo (USP), os entrevistados
possivelmente deram respostas utópicas. "Em um mundo em que não houver
barreiras, lógico que muita gente gostaria de morar na zona sul do Rio."
Ainda assim, ele defende que o crescimento econômico dos anos 2000 foi crucial para
"colocar o País no mapa da imigração".
A diplomata Liliam Chagas de Moura estuda o
chamado "soft power" brasileiro - a capacidade de um país de exercer
influência por meio de sua cultura e hábitos políticos. "Temos uma cultura
diversa e riquíssima, somos uma democracia e somos reconhecidos em nossa
política externa por ser um país pacífico", diz, acrescentando que essas
características definem a "marca Brasil" no exterior. "Já morei
em diversos países e, ao nos apresentarmos como brasileiros, recebemos uma
empatia imediata."
Foi essa empatia que atraiu a portuguesa Sara
Mendonça, de 26 anos. Ela é gerente de marcas e se identificou com o País ao
fazer intercâmbio no Rio. Há seis meses, ela se mudou definitivamente para
Campinas.
"No momento, aqui tem muito mais oportunidades
do que a Europa. Ganha-se melhor", diz Sara, que antes morava na Espanha.
Ela conta que perdeu um pouco da qualidade de vida, mas pensa em ficar alguns
anos mais. "Não penso em ficar para sempre. Quero ficar até a situação na
Europa melhorar ou a do Brasil piorar."
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