Quando não escrevo
fico um pouco triste;
privo-me do enlevo
que em mim consiste.
Tento acordar o poema
que dorme tão latente;
como achar o tema
em mim agora ausente?
Mas sei que a poesia
reside sempre em mim;
amiga de nobre valia
já espera-me no jardim.
Ó, não vi você acordar
e sair na fresca manhã;
agora posso me inspirar
degustando a doce avelã.
Ainda está sonolenta
espreguiça-se e boceja;
sei que está desatenta
mas sei que me deseja.
Sobre a relva orvalhada
tão prendada, tão vaidosa;
ouve o canto da passarada
burilando-o toda dengosa.
Inspira o aroma das flores
sente o passar do vento;
sob o arco-íris multicores
renova-se em útil alento.
Gosta de ser paparicada
pelo poeta já inspirado;
como poesia ajardinada
curte o recanto arborizado.
Ó poesia, amiga fraterna
sai de mim tão natural;
parnasiana ou moderna
cumpre a poética fenomenal.
Não estou triste, ó poesia
estou agora bem contente;
você saiu de sua moradia
para doar-se qual presente!
Escritor Adilson Fontoura
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