Fazer poesia para mim,
em não pensar em nenhum verso;
é apenas sentir o cheiro do jasmim,
fluindo em mim, como o Universo.
Assim, não penso, apenas sinto
o verso, qual seiva na planta,
que jorra, qual rio, no labirinto
poético, que sempre me encanta.
Talvez sentir, não seja o pensar
em mim, do cosmo em poesia;
que ora é só rio, ora é só mar,
quase presos num leito de baía.
E o poeta em mim, não só sente,
(como alma, nos ares voando);
o seu pensar lírico tão contente,
mas a própria poesia flutuando.
Não retiro de mim o que penso,
em versos íntimos não sentidos;
retiro deles o amor tão intenso,
que brota dos meus eus evoluídos.
Amar os versos no nascedouro
cósmico, é cantar a poesia de Deus;
é desatar os versos do ancoradouro
divino, emanados dos puros céus.
Às vezes canto a poesia já morta,
sepulta no fim da vida carnal;
mas dela renasce o que me conforta:
a infinita poesia da vida espiritual.
Recomeço a fazer os novos versos,
antes mesmo de sair da finitude tumular;
pois me livram os meus outros eus diversos,
da triste morte à vida alegre do eterno
poetar.
Sinto os sorrisos pueris do poeta menino,
cantando a natureza em seus primeiros versos;
relembrando no poeta maduro, o dom divino
de poetar da alma menina com seus eus ainda
dispersos.
Quase sempre não penso o que sinto compondo,
como se os versos fossem a intuição de minha
alma no porvir;
visitam-me outros eus poéticos, num êxtase
fluídico de sol se pondo
no ocaso crepuscular, ocultando o poema, que
sempre há de vir!
Escritor Adilson Fontoura
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