terça-feira, 24 de dezembro de 2013

A BORBOLETA E A FLOR

Escritor Adilson Fontoura


A BORBOLETA E A FLOR
 
Agora, que a borboleta pousa na flor, fechando e abrindo as suas asinhas multicoloridas, justo agora é que começa cair uma chuva fina e fria, que se derrama suave sobre os prados ressequidos, já um tanto amarelecidos pela presença persistente do sol escaldante. Essas coisas acontecem de repente, como sempre acontecem, quando Deus decide que aconteçam, com a sua forma simples e bondosa de fazer as coisas existirem; de fazer as coisas se revelarem quando estão latentes em suas entranhas supremas; e surgem assim, tão naturalmente, que é como se nunca tivessem existido; que é como se existissem pela primeira vez, sem dar por entender que já existem, e que apenas ressurgem como coisas simples, resultante da sabedoria recriativa de Deus.
A chuva cai fina e fria e o vento age espalhando-a pela atmosfera, ainda muito abafada pelo calor intenso do verão, que insistia em predominar aquecendo a terra, como se não quisesse refrescá-la. Mas a presença de Deus é eterna em todas as coisas, e é Deus quem decide quando as coisas devem modificar-se, mantendo assim, o equilíbrio natural das coisas criadas em harmonia com a Unidade Suprema do Cosmo. De tanto a chuva cair fina e fria, que o vento faz subir um vapor de terra seca molhada. Um cheiro acrimonioso que provoca espirro, e até resfria quem está com baixas defesas imunológicas. Mas a chuva é sempre bem-vinda, porque, tanto ela molha o sol, que depois vai secar-se naturalmente, quanto molha as plantas, as flores, os frutos; acumula água nos córregos, riachos, lagos, lagoas, rios e mares. A chuva é a chuva! O sol é o sol! Sol e chuva pertencem a Deus, que cede a Terra e aos seus habitantes, a sua presença suprema em forma de sol e chuva, gerando vida em abundância. E pensar que escrevo esses versos em prosa tão simples, somente pensando no encontro afetivo da borboleta com a flor; mas a borboleta não está mais pousada na flor; a chuva que caiu, apagou a marca de sua presença na flor; no entanto, a flor sentiu-se fraternalmente feliz, por ter compartilhado com tão nobre visita. E agora, que o sol voltou a brilhar, a flor ainda sente no ar, o cheiro sedutor da borboleta, e parece maravilhar-se com a interação afetiva que houve entre ela e a borboleta; e desde já, sentindo amorosa saudade, a flor se delicia com o cheiro sedutor da borboleta, que, voando, voando, voando, fechando e abrindo as suas asinhas multicoloridas, foi em busca de outra flor, para fazer um novo pouso, uma nova visita; e, decerto, borboleta e flor irão experimentar a presença alternada do sol e da chuva, e da Presença Eterna de Deus: no sol, na chuva, na borboleta e na flor.
 
Escritor Adilson Fontoura

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