Por Adilson Fontoura
(René Karl Wilhelm Johann
Josef Maria Rilke)
Poeta, novelista
Nasceu em 04 de Dezembro de 1875
Local: Praga, República
Tcheca
Faleceu em 29 de Dezembro
de 1926
Local: Valmont, Suíça
Rilke teve uma infância
difícil e traumática, cheia de conflitos emocionais marcada pela separação dos
pais e pelo suicídio de um irmão.
Considerado um dos poetas
modernos mais importantes e inovadores da literatura alemã, por seu estilo
preciso, pelas imagens simbólicas e suas reflexões. Trabalhando com os limites
sensoriais da existência, da melancolia, a sua poesia traduz o fundamento da
busca de ser.
Rilke possui uma obra
original, marcada pelo tratamento da forma e pelas imagens inesperadas. Celebra
a união transcendental do mundo e do homem, numa espécie de “espaço cósmico
interior”. Sua poesia provocava a reflexão existencialista e instigava os
leitores a se defrontarem com questões próprias do desencantamento da primeira
metade do século XX.
Viajou pela Rússia,
encontrou-se com Tolstói; e passou uma temporada em Paris. Percorreu a Europa e
tornou-se amigo e secretário de Rodin em Meudon (1905-1906). Viveu durante
muitos anos na França.
Escreveu "Cartas a
um jovem poeta", espécie de teoria existencial da arte poética. Alguns
trabalhos seus, revelaram sua angústia latente e sua sede de viver.
Poucos meses antes de
falecer, a França dedicou-lhe uma homenagem coletiva na forma dos "Cahiers
du Mois", sob o título "Reconnaissance à Rilke".
Doente, (com leucemia)
fixou-se no castelo de Muzot, na Suíça, onde procurou, através da meditação
poética, dominar a angústia da morte.
Rilke possui uma obra
original, marcada pelo tratamento da forma e pelas imagens inesperadas. Celebra
a união transcendental do mundo e do homem, numa espécie de “espaço cósmico
interior”. Sua poesia provocava a reflexão existencialista e instigava os
leitores a se defrontarem com questões próprias do desencantamento da primeira
metade do século XX.
Sua obra, com seu
hermetismo, solidão e ociosidade, chegou a um profundo existencialismo e
influenciou os escritores dos anos cinqüenta tanto na Europa como na América.
No Brasil foram seus leitores Sérgio Buarque de Hollanda entre outros.
"O poeta viveu em
transe poético constante, amargurando seu espírito contra todos os temas da
Vida, do Amor e da Morte, a que piedosamente amou como uma única entidade.
Sua simplicidade como
poeta nasce dessa longa tortura lírica de ver a morte como um amadurecimento da
vida, numa total compensação. Rilke acreditava que a morte nasce com o homem,
que este a traz em si tal uma semente que brota, faz-se árvore, floresce e
frutifica ao se despojar do seu alburno humano." (Vinícius de Moraes)
Relendo Rilke
(clique para ler o texto
na íntegra)
Rilke faleceu de
leucemia, em 29 de dezembro de 1926, em Valmont (Suíça). A doença que o levou à
morte foi contraída por conta do envenenamento causado por um espinho de rosa,
que o feriu enquanto cuidava do jardim do castelo Muzot, na Suíça, onde viveu
retirado nos últimos anos de sua vida. Na sua tumba, um epitáfio por ele mesmo
escrito assim diz:
Rosa, ó pura contradição,
prazer
de ser o sono de ninguém
sob tantas
pálpebras.
Rose, oh reiner
Widerspruch, Lust,
Niemandes Schlaf zu sein
unter soviel
Lidern.
CURIOSIDADES:
• Até os 5 anos de idade,
"Phia", sua mãe, o vestia com roupas de menina, para compensar a
perda de uma filha recém-nascida.
• Em algumas biografias
Rilke é tido como homossexual, talvez por essa atitude de sua mãe o vestir de
mulher. Não se tem nada oficial que corrobore essa afirmação.
• Rilke tinha 22 anos, e
Lou Andreas Salomé, 36. Casada e já conhecida no meio intelectual, Lou
desencadeou no jovem René uma amizade complexa, uma mistura de admiração,
cumplicidade intelectual e paixão. Foi por influência da escritora que o poeta
passou a assinar Rainer – segundo ela, um nome mais masculino e condizente com
o poeta que ele pretendia ser.
• Em Paris se enamora da
pintora Paula Becker, mas, em 1901, casa-se com uma discípula de Rodin, Clara
Westhaff. Eles tiveram uma filha, Ruth, porém o casamento durou apenas um ano.
Pouco depois se separam, embora tenham sido amigos por toda a vida.
• Durante a Primeira
Guerra Mundial o Castelo de Duíno foi arruinado por bombardeios e as
propriedades de Rilke foram confiscadas na França. Ele serviu no Exército
austríaco e encontrou Werner Reinhart, que era proprietário do Castelo Muzot,
em Valais, onde passou a residir.
• Uma importante parte
dos escritos de Rilke são suas cartas (para Marina Tsvetaeva, Auguste Rodin,
André Gide, H.v.Hofmannstahl, Boris Pasternak, Stefan Zweig, e outros), que
foram publicadas postumamente. Destaque para as Cartas a um jovem poeta.
• Cartas a um jovem poeta
traz as correspondências de Rainer Maria Rilke com um de seus leitores, Franz
Kappus. A forma como Rilke escreve suas
correspondências demonstra o respeito por seus leitores, o carinho por quem o
lê. O conteúdo de suas cartas é poético, mostra a intimidade do escritor com as
palavras.
• A obra "A vida de
Maria" foi musicada pelo compositor alemão Paul Hindemith.
ALGUMAS POESIAS DE RAINER
MARIA RILKE:
INICIAÇÃO
Quem quer que sejas:
deixa tua alcova,
Da qual já sabes tudo que
desejas;
Teu lar na tarde, longe,
se renova,
Quem quer que sejas.
Com teus olhos exaustos,
que ainda a custo
Entre os gastos umbrais
logram passar,
Ergues inteira a sombra
dum arbusto
Posto ante o céu –
esguio, singular.
E tens já pronto o mundo:
estranho assim
Como palavra que
amadurecesse
No silêncio, e que teu
olhar esquece
Quando lhe captas o
sentido, enfim...
A SOLIDÃO
A solidão é como chuva.
Sobe do mar nas tardes em
declínio;
Das planícies perdidas na
saudade
Ela se eleva ao céu, que
é seu domínio,
Para cair do céu sobre a
cidade.
Goteja na hora dúbia
quando os becos
Anseiam longamente pela
aurora,
Quando os amantes se
abandonam tristes
Com a desilusão que a
carne chora;
Quando os homens, seus
ódios sufocando,
Num mesmo leito vão
deitar-se: é quando
A solidão com os rios vai
passando...
OUTONO
As folhas caem como se do
alto
Caíssem, murchas, dos
jardins do céu;
Caem com gestos de quem
renuncia.
E a Terra, só, na noite
de cobalto,
Cai de entre os astros na
amplidão vazia.
Caímos todos nós. Cai
esta mão.
Olha em redor: cair é a
lei geral.
E a terna mão de Alguém
colhe, afinal,
Todas as coisas que caindo
vão.
DIA DE OUTONO
Senhor, é tempo! O estio
foi bem grande.
No relógio solar pousa
tua sombra,
E pela pradaria o vento
se expande.
Amadurece a fruta
verdadeira:
Dá-lhe dois dias mais
meridionais
Em que se aperfeiçoe, e
exige o mais
Doce sabor à pejada
videira.
Quem não tem casa, agora,
não a faça;
Se há alguém sozinho,
assim deve ficar
A ler ou longas cartas
rascunhar,
Nas alamedas onde
inquieto passa
Enquanto as folhas tremem
soltas no ar.
SONETOS A ORFEU
XV/1
Ah, esse gosto...
esperai! Já se permuta:
É música, zumbir, passos
cadentes...
Ó vós, moças mudas, moças
ardentes,
Dançai o gosto da provada
fruta!
Dançai a laranja! Quem
dentre nós
Pudera esquecê-la, a
fatal doçura
Afogando em si?
Possuíste-la vós,
Sua delícia à vossa se
mistura.
Dançai a laranja. O
torrão mais quente
Lançai fora de vós, para
que no ar da
Pátria, maduro raie.
Desvendai,
Abrasadas, os seus
perfumes. Criai
Relações com a casca
resistente
E o sumo que ela,
venturosa, guarda.
PEÇA FINAL
A morte é grande.
Nós somos suas
Bocas ridentes:
Se fala a Vida por nossa
voz,
Ela, atrevida,
Soluça em nós.
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