quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

RAINER MARIA RILKE

Por Adilson Fontoura


(René Karl Wilhelm Johann Josef Maria Rilke)

Poeta, novelista
 Nasceu em 04 de Dezembro de 1875
Local: Praga, República Tcheca
Faleceu em 29 de Dezembro de 1926
Local: Valmont, Suíça




Rilke teve uma infância difícil e traumática, cheia de conflitos emocionais marcada pela separação dos pais e pelo suicídio de um irmão.

Considerado um dos poetas modernos mais importantes e inovadores da literatura alemã, por seu estilo preciso, pelas imagens simbólicas e suas reflexões. Trabalhando com os limites sensoriais da existência, da melancolia, a sua poesia traduz o fundamento da busca de ser.

Rilke possui uma obra original, marcada pelo tratamento da forma e pelas imagens inesperadas. Celebra a união transcendental do mundo e do homem, numa espécie de “espaço cósmico interior”. Sua poesia provocava a reflexão existencialista e instigava os leitores a se defrontarem com questões próprias do desencantamento da primeira metade do século XX.

Viajou pela Rússia, encontrou-se com Tolstói; e passou uma temporada em Paris. Percorreu a Europa e tornou-se amigo e secretário de Rodin em Meudon (1905-1906). Viveu durante muitos anos na França.

Escreveu "Cartas a um jovem poeta", espécie de teoria existencial da arte poética. Alguns trabalhos seus, revelaram sua angústia latente e sua sede de viver.

Poucos meses antes de falecer, a França dedicou-lhe uma homenagem coletiva na forma dos "Cahiers du Mois", sob o título "Reconnaissance à Rilke".

Doente, (com leucemia) fixou-se no castelo de Muzot, na Suíça, onde procurou, através da meditação poética, dominar a angústia da morte.

Rilke possui uma obra original, marcada pelo tratamento da forma e pelas imagens inesperadas. Celebra a união transcendental do mundo e do homem, numa espécie de “espaço cósmico interior”. Sua poesia provocava a reflexão existencialista e instigava os leitores a se defrontarem com questões próprias do desencantamento da primeira metade do século XX.

Sua obra, com seu hermetismo, solidão e ociosidade, chegou a um profundo existencialismo e influenciou os escritores dos anos cinqüenta tanto na Europa como na América. No Brasil foram seus leitores Sérgio Buarque de Hollanda entre outros.

"O poeta viveu em transe poético constante, amargurando seu espírito contra todos os temas da Vida, do Amor e da Morte, a que piedosamente amou como uma única entidade.
Sua simplicidade como poeta nasce dessa longa tortura lírica de ver a morte como um amadurecimento da vida, numa total compensação. Rilke acreditava que a morte nasce com o homem, que este a traz em si tal uma semente que brota, faz-se árvore, floresce e frutifica ao se despojar do seu alburno humano." (Vinícius de Moraes)

Relendo Rilke
(clique para ler o texto na íntegra) 

Rilke faleceu de leucemia, em 29 de dezembro de 1926, em Valmont (Suíça). A doença que o levou à morte foi contraída por conta do envenenamento causado por um espinho de rosa, que o feriu enquanto cuidava do jardim do castelo Muzot, na Suíça, onde viveu retirado nos últimos anos de sua vida. Na sua tumba, um epitáfio por ele mesmo escrito assim diz:

Rosa, ó pura contradição, prazer
de ser o sono de ninguém sob tantas
pálpebras.

Rose, oh reiner Widerspruch, Lust,
Niemandes Schlaf zu sein unter soviel
Lidern.

CURIOSIDADES:

• Até os 5 anos de idade, "Phia", sua mãe, o vestia com roupas de menina, para compensar a perda de uma filha recém-nascida.

• Em algumas biografias Rilke é tido como homossexual, talvez por essa atitude de sua mãe o vestir de mulher. Não se tem nada oficial que corrobore essa afirmação.

• Rilke tinha 22 anos, e Lou Andreas Salomé, 36. Casada e já conhecida no meio intelectual, Lou desencadeou no jovem René uma amizade complexa, uma mistura de admiração, cumplicidade intelectual e paixão. Foi por influência da escritora que o poeta passou a assinar Rainer – segundo ela, um nome mais masculino e condizente com o poeta que ele pretendia ser.

• Em Paris se enamora da pintora Paula Becker, mas, em 1901, casa-se com uma discípula de Rodin, Clara Westhaff. Eles tiveram uma filha, Ruth, porém o casamento durou apenas um ano. Pouco depois se separam, embora tenham sido amigos por toda a vida.

• Durante a Primeira Guerra Mundial o Castelo de Duíno foi arruinado por bombardeios e as propriedades de Rilke foram confiscadas na França. Ele serviu no Exército austríaco e encontrou Werner Reinhart, que era proprietário do Castelo Muzot, em Valais, onde passou a residir.

• Uma importante parte dos escritos de Rilke são suas cartas (para Marina Tsvetaeva, Auguste Rodin, André Gide, H.v.Hofmannstahl, Boris Pasternak, Stefan Zweig, e outros), que foram publicadas postumamente. Destaque para as Cartas a um jovem poeta.

• Cartas a um jovem poeta traz as correspondências de Rainer Maria Rilke com um de seus leitores, Franz Kappus.  A forma como Rilke escreve suas correspondências demonstra o respeito por seus leitores, o carinho por quem o lê. O conteúdo de suas cartas é poético, mostra a intimidade do escritor com as palavras.

• A obra "A vida de Maria" foi musicada pelo compositor alemão Paul Hindemith.
 
ALGUMAS POESIAS DE RAINER MARIA RILKE:
 
INICIAÇÃO
Quem quer que sejas: deixa tua alcova,
Da qual já sabes tudo que desejas;
Teu lar na tarde, longe, se renova,
Quem quer que sejas.
 
Com teus olhos exaustos, que ainda a custo
Entre os gastos umbrais logram passar,
Ergues inteira a sombra dum arbusto
Posto ante o céu – esguio, singular.
 
E tens já pronto o mundo: estranho assim
Como palavra que amadurecesse
No silêncio, e que teu olhar esquece
Quando lhe captas o sentido, enfim...
 
A SOLIDÃO
A solidão é como chuva.
 
Sobe do mar nas tardes em declínio;
Das planícies perdidas na saudade
Ela se eleva ao céu, que é seu domínio,
Para cair do céu sobre a cidade.
 
Goteja na hora dúbia quando os becos
Anseiam longamente pela aurora,
Quando os amantes se abandonam tristes
Com a desilusão que a carne chora;
Quando os homens, seus ódios sufocando,
Num mesmo leito vão deitar-se: é quando
A solidão com os rios vai passando...
 
OUTONO
 
As folhas caem como se do alto
Caíssem, murchas, dos jardins do céu;
Caem com gestos de quem renuncia.
 
E a Terra, só, na noite de cobalto,
Cai de entre os astros na amplidão vazia.
 
Caímos todos nós. Cai esta mão.
Olha em redor: cair é a lei geral.
 
E a terna mão de Alguém colhe, afinal,
Todas as coisas que caindo vão.
 
DIA DE OUTONO
 
Senhor, é tempo! O estio foi bem grande.
No relógio solar pousa tua sombra,
E pela pradaria o vento se expande.
 
Amadurece a fruta verdadeira:
Dá-lhe dois dias mais meridionais
Em que se aperfeiçoe, e exige o mais
Doce sabor à pejada videira.
 
Quem não tem casa, agora, não a faça;
Se há alguém sozinho, assim deve ficar
A ler ou longas cartas rascunhar,
Nas alamedas onde inquieto passa
Enquanto as folhas tremem soltas no ar.
 
SONETOS A ORFEU
XV/1
Ah, esse gosto... esperai! Já se permuta:
É música, zumbir, passos cadentes...
Ó vós, moças mudas, moças ardentes,
Dançai o gosto da provada fruta!
 
Dançai a laranja! Quem dentre nós
Pudera esquecê-la, a fatal doçura
Afogando em si? Possuíste-la vós,
Sua delícia à vossa se mistura.
 
Dançai a laranja. O torrão mais quente
Lançai fora de vós, para que no ar da
Pátria, maduro raie. Desvendai,
 
Abrasadas, os seus perfumes. Criai
Relações com a casca resistente
E o sumo que ela, venturosa, guarda.
  
PEÇA FINAL
 
A morte é grande.
Nós somos suas
Bocas ridentes:
Se fala a Vida por nossa voz,
Ela, atrevida,
Soluça em nós.


 
 



 

 



               

               

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