Escritor Adilson Fontoura
A vida passara a ser mais interessante
para Laura, quando conhecera Mário. Ambos ainda adolescentes. O primeiro
encontro acontecera numa festa de aniversário. Quando os olhares se fixaram,
prevalecera entre eles, uma aceitação mútua tão envolvente que, sem perceberem,
já estavam um de frente pro outro, e os seus espíritos se sentiram enamorados.
Nada mais tão natural do que dois jovens de sexos opostos, no verdor de suas
vidas, sentirem a emoção, a paixão, o amor fervilhando em seus corações
juvenis.
Amar numa idade imatura é sofrer riscos; é
caminhar por abismos; é exercitar com dúvidas; é ceder sem responsabilidades; é
sentir prazer e navegar com a alma exposta num oceano de tempestades. Por outro
lado, amar na idade imatura, faz bem à alma que cultiva o amor como um bem
eterno; faz bem à alma que em sua doação ao outro, exercita a sublime caridade;
e faz bem à alma ser perseverante e compreensiva, na busca contínua do
equilíbrio e da harmonia afetiva.
Fora amor à primeira vista. Laura, uma
morena calma, faceira, deslumbrante. Mário, um mulato esbelto, impetuoso,
sedutor. A energia carnal, própria da tenra idade, sobressaía no jovem casal.
Com frequência eram vistos juntos, sempre agarradinhos, em festinhas, nos
bares, restaurantes, danceterias, clubes, cinemas, praia, ou em qualquer
ambiente social onde predominasse a juventude. Após a conclusão do segundo-grau,
fizeram vestibulares e foram aprovados. Ela cursara Jornalismo. Ele, Engenharia
Civil.
Com a graduação em suas respectivas
profissões, cada um iniciara a sua carreira profissional. Laura, que estagiara
numa emissora de televisão, ali mesmo fora aproveitada como redatora de
telejornal. Mário, que fizera um brilhante estágio numa construtora,
especializada em construir modernos edifícios, também fora aproveitado em seu
quadro de pessoal.
O namoro seguia sem problemas. Laura e
Mário estavam cada vez mais apaixonados. Jovens, sadios, independentes
economicamente, contudo, cada um ainda morava com os seus pais. Como é natural
na relação entre duas pessoas que se amam, decidiram por um futuro casamento.
Só que antes, teriam que comprar uma casa ou apartamento, e, só depois de
mobiliado, marcaria a data do matrimônio. Os pais de Mário (ele era filho
único) eram Técnicos em Turismo e viviam viajando. O pai de Laura, um Analista
de Sistemas, após um acidente vascular cerebral, praticamente ficara inválido,
só se locomovendo em cadeira de rodas. A mãe de Laura, professora
universitária, se desdobrava dando aula na faculdade e em escola particular,
para ter uma renda compatível com o seu nível profissional.
Laura tinha uma irmã, Paula, um pouco mais
velha do que ela. Decidira pela carreira de modelo e morava no exterior. Quando
Laura levara Mário à sua casa para que os seus pais os conhecesse, não esperava
que eles fossem tão simpáticos e receptivos com o seu namorado. A sua mãe
então, toda saliente, só faltava
agarrá-lo e beijá-lo ali mesmo em sua frente, num desrespeito a ela e ao seu
pai. Mário, inseguro, não sabia o que fazer, a não ser agir passivamente,
diante da atitude intempestiva da mãe de Laura.
Os dias, os meses, e os anos foram passando.
A rotina da vida do jovem casal de noivos fora se acentuando. E o tempo deles
ficarem juntos diminuíra. É verdade que o compromisso do casamento não se
desfizera. Já haviam comprado o apartamento e a mobília. Claro que, pelo fato
de ainda não estarem casados, não significa que eles não se encontrassem de
forma mais íntima. A princípio, nos motéis. Depois, no apartamento onde iriam
morar após o casamento. Porém, esses encontros estavam ficando cada vez mais
raros. A frieza na relação começara a partir de Mário, que apenas telefonava
para Laura de vez em quando, sem, no entanto, aparecer para vê-la.
Laura era muito parecida com a mãe. Quando
as duas estavam juntas, pareciam duas irmãs. O que Laura não sabia, era que a
sua mãe estava já há algum tempo, tendo encontros íntimos com Mário.
Desconfiada do noivo, por não mais procurá-la com a mesma intensidade, decidira
sem avisá-lo, procurá-lo para saber o que estava ocorrendo. O porquê daquela
atitude tão estranha sem uma explicação plausível.
E fora assim que, numa noite de domingo,
alguma coisa a fazia intuir, que deveria, antes de encontrar-se com Mário, dar
um pulo no apartamento que ambos haviam comprado com tanto sacrifício. Ao
sentir falta de algum objeto de uso pessoal, lembrara que nele havia deixado, e
para lá fora.
No caminho, Laura ia dirigindo e pensando
nos bons e prazerosos momentos que tivera com Mário. Logo estariam casados. Mas
como, se as coisas não iam bem? Ela não tinha certeza de mais nada. Teria uma
conversa franca com Mário, e, a depender, acabariam com o compromisso que
tinham assumido. Quanto aos bens adquiridos, venderiam, e dividiriam em partes
iguais. Laura ia dirigindo apreensiva. Até que chegara à frente do moderno
edifício.
O porteiro, solícito, acionara o dispositivo
para que a garagem se abrisse. Laura estacionara o carro e depois subira pelo
elevador. O apartamento ficava no décimo andar. Quando abrira a porta se
assustara, pois a luz da sala estava acesa. Será que Mário, por coincidência
estaria ali? Ou seria algum ladrão? Mas olhara as coisas da sala e percebera
que tudo estava no devido lugar. Então, Laura se dirigira ao quarto do casal.
Ao abrir a porta, se deparara com uma cena que jamais desejaria ver, ou que
jamais pensara que fosse acontecer: Mário e a sua mãe, estavam ali em sua
frente, na sua cama, dormindo profundamente.
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