domingo, 9 de março de 2014

VERSOS NATURAIS

 
Desço bem devagar pela encosta,
até a beira do riacho repleto
de pedras limosas, não só, porque
gosto de contemplá-lo, mas também
porque gosto de banhar-me
em suas águas cristalinas na fresca
manhã, quando o sol ainda
desponta morno por detrás
da serra, encoberta por árvores
frondosas, depois de brilhar tão quente
do outro lado do belo e abençoado
planeta azul, que é tão mais de Deus
do que nosso. Antes de banhar-me,
fico alguns instantes abstraído,
jogando pedrinhas em suas águas
límpidas, que após se acomodarem
em seu leito pouco profundo,
são logo envoltas por algas verdosas,
que nelas se assentam, sem temer,
de cima das pedrinhas serem
retiradas, a não ser quando a presença
da chuva faz encher o riacho,
além do tanto habitual de água;
quando então as pedrinhas,
devido à força das águas ,
rolam um pouco mais à frente,
sem que por isso, as algas, delas,
se desprendam, por serem mais
leves do que as leves pedrinhas.
Todas as vezes que chego à beira
do riacho, faço esse gesto simples
de jogar pedrinhas em suas águas,
porque quando o riacho está seco,
as pedrinhas e as algas fazem
do seu leito morada habitual.
Mas quando chove e o riacho
transborda, as pedrinhas,
junto com as algas, são expulsas
do leito do riacho pela força
das águas, que as arremessam
à beira das suas margens, e ali
ficam, na quentura do dia,
ou na frieza da noite, até que,
uma nova chuva a devolvam
de novo pro fundo do riacho;
ou então, não sei porquê,
talvez seja pela força de Deus
nas coisas, elas ficam ali,
tão pacientes me esperando,
para que eu as segure tão amável,
e as arremesse de novo ao leito
pouco profundo do riacho,
porque as pedrinhas e as algas,
sabem que faço esse gesto
por amor a elas, por amor
à natureza, por amor a Deus.
 
Escritor Adilson Fontoura
 

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