Eu sei que a paz que há nos campos,
não é a mesma paz que há nas cidades;
porque há mais paz onde tem menos gente;
e há menos paz onde tem mais gente;
há mais paz onde Deus simboliza o natural;
e há menos paz onde Deus simboliza o
artificial;
visto que, nos campos toda gente se nutre
apenas
do simples viver; ao contrário das cidades,
onde toda gente se ilude com a vida luxuosa,
tão cheia dos vícios e prazeres vãos mundanos.
Por isso que a vida nos campos é mais
pacífica,
sendo o oposto da vida nas cidades, já tão
violenta;
quão bom seria se o cidadão urbano pudesse
andar pelas ruas e avenidas sem preocupar-se
com a ação maléfica do seu semelhante;
porquanto nos campos, o camponês anda
tranquilo,
léguas e léguas, sem ser importunado ou
violentado
por qualquer ato nocivo que lhe ceife a vida
pacata
e simples de vivência rural; convicto de que
pode
confiar em quem anda ao seu lado, ou em quem
anda em sentido contrário, como se lhe viesse
ao encontro, mas que passa bem sossegado, e
lhe
ostenta um suave sorriso com uma gentil
saudação.
Parece que o homem, quanto mais se moderniza,
mais também se brutaliza seduzido pelas
ambições
materiais; que o tornam feliz ilusoriamente;
que o tornam
egoísta em demasia, quando busca a si os bens
materiais que lhe trazem um bem-estar
aparente;
que o fazem ser um rei prepotente na vida
encarnada;
mas o rebaixam a um reles mendigo andrajoso,
nos umbrais infernais da ínfima vida
desencarnada.
Todavia, quando falo que há mais paz nos
campos,
não é porque essa paz campesina esteja deveras
consolidada; não é porque alguma gente
moradora
nos campos, não haja de algum modo com
violência;
não é porque no interior tosco das casas
campestres,
a violência não predomine entre as gentes com
almas
ainda inferiores; já que o mal ( tão forte mas
tão efêmero
em quem o cultiva, não é tão sólido e tão
poderoso
quanto o bem eterno em quem deseja
cultivá-lo),
se alastra desumanamente impiedoso, tanto nos
campos
quanto nas cidades, mediante as ações
perniciosas
dos homens, que continuam a nutrir-se dos
males
de suas consciências imorais; mas se o mal
ainda age
com fingida sedução, nas consciências dos
homens
que moram nas cidades e nos campos, é porque
o bem até então, não lhe prevalecem
interiormente;
é porque o bem até agora, não tem força
suficiente
para embelezar com amor, as interioridades
impuras.
Se um homem ou uma mulher, em gesto tão raro
( numa mansão urbana ou num casebre campesino
),
se contentam enlevados em contemplar a beleza
singela de um ramalhete de flores naturais
( sem tocá-las ou cheirá-las ), é porque as
tocam
e as cheiram somente com as sensibilidades
de suas energias fluídicas interiores, que se
irradiam
pacíficas ( e não violentas ) por entre o
aspecto
formoso das flores, gerando a interação
harmoniosa
benévola entre as energias humanas e vegetais.
Sim, é verdade! Há mais paz nos campos do que
nas cidades, não só porque nos campos tem
menos
gente para divergir em diversos conflitos
existenciais;
mas também porque os campos, com toda harmonia
silvestre dos elementos naturais, simbolizam a
paz
esperada por Deus entre os homens que
vivenciam
constantes desarmonias nas relações sócio
afetivas.
A paz suprema deve existir sempre, a partir da
unidade
harmoniosa do homem com a natureza; e não a
partir
das ações violentas do homem destruindo os
elementos
naturais, desmatando, poluindo e
artificializando a natureza,
produzindo desequilíbrio desastroso em todo
ecossistema.
Como conseguimos, afinal, a paz essencial?
Quando
plantamos, colhemos e ingerimos os alimentos
sem agrotóxicos; quando preservamos a fauna em
seu
habitat natural; quando preservamos a flora
garantindo
qualidade de vida ambiental; quando
estimulamos
o desenvolvimento sustentável visando
equilíbrio entre
o homem e as condições ambientais que o
cercam;
quando promovemos a igualdade social; quando
libertamos
a consciência das várias formas de
preconceitos; quando
combatemos os defeitos morais que inferiorizam
a consciência; quando eliminamos os vícios
mundanos
que lesam a organização física e espiritual;
quando
plantamos na consciência e semeamos no
próximo,
o amor e o bem edificantes, para que a paz
fundamental
predomine todo tempo nas ações sócio
ambientais
diárias dos homens rurais e urbanos de boa
vontade;
quando amamos, respeitamos e compreendemos
o próximo, conforme as Leis Naturais e Morais
de Deus!
Escritor Adilson Fontoura
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