“ Olhemos mais de perto esse solitário e
veremos que ele pertence
à espécie dos que não amam a solidão, dos que
têm medo dela...”
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
“ O amor mesmo é apenas solidão, as obras de
arte são duma
solidão infinita, e nós somos essencialmente
sós...”
RAINER MARIA RILKE
Adoro contemplar a solidão da noite,
sobretudo quando encontro-me só em íntimos
instantes meditativos.
Sinto que, ao compartilhar de sua tristeza
solitária,
reverto-a com a minha solitária alegria,
no deleite de compor inspirados textos
literários noturnos.
Apraz-me conciliar a minha solidão com a
solidão da noite,
porque assim, não sinto-me só, nutrindo-me da
amplitude de sua solidez,
que é apenas aparente, e faz-se predominante
interinamente de um lado
do planeta, enquanto do outro é dia.
Há sempre o aspecto misterioso, para a alma
sensível que contempla a noite,
a partir da magia silenciosa que emana de sua
encantadora solidão.
Se para uns, a solidão (sobretudo a solidão
noturna) é um estímulo à
incômoda depressão; para outros, dotados de
maior sensibilidade
metafísica, ela propicia o sempre difícil
aprendizado introspectivo.
Conquanto, é em minha útil solidão (mais
noturna do que diurna), que
encontro motivação inspirada para escrever
textos poéticos ou prosaicos.
Contemplar os astros luminosos e iluminados
(as luas, as estrelas, os
planetas), é ver e sentir em meu espírito que
na fenomenal solidão da noite,
a vida move-se pujante, existindo e
sobre-existindo em Deus, com Deus e
para Deus eternamente.
Desse modo, não gero melancolia em meu
espírito, aprazendo-me todo
tempo com a solidão oriunda da noite, que me
proporciona inefável alegria.
Por fim, todo artista, será sempre um amante zeloso
de sua solidão,
porque é dela que retira o vigor, a habilidade
e a sensibilidade para cultivar,
exercitar e semear a sua arte, além de nutrir
essencialmente o seu espírito,
do prodigioso e transcendente ato de criação
artística.
Escritor Adilson Fontoura
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