domingo, 11 de maio de 2014

A PAZ NOS CAMPOS E NAS CIDADES

“Toda a paz da Natureza sem gente vem sentar-se a meu lado.” ALBERTO CAEIRO.

Eu sei que a paz que há nos campos, não é a mesma paz que há nas cidades; porque há mais paz onde tem menos gente; e há menos paz onde tem mais gente; há mais paz onde Deus simboliza o natural; e há menos paz onde Deus simboliza o artificial; visto que, nos campos toda gente se nutre apenas do simples viver; ao contrário das cidades, onde toda gente se ilude com a vida luxuosa, tão cheia dos vícios e prazeres vãos mundanos. Por isso que a vida nos campos é mais pacífica, sendo o oposto da vida nas cidades, já tão violenta; quão bom seria se o cidadão urbano pudesse andar pelas ruas e avenidas sem preocupar-se com a ação maléfica do seu semelhante; porquanto nos campos, o camponês anda tranquilo, léguas e léguas, sem ser importunado ou violentado por qualquer ato nocivo que lhe ceife a vida pacata e simples de vivência rural; convicto de que pode confiar em quem anda ao seu lado, ou em quem anda em sentido contrário, como se lhe viesse ao encontro, mas que passa bem sossegado, e lhe ostenta um suave sorriso com uma gentil saudação. Parece que o homem, quanto mais se moderniza, mais também se brutaliza seduzido pelas ambições materiais; que o tornam feliz ilusoriamente; que o tornam egoísta em demasia, quando busca a si os bens materiais que lhe trazem um bem-estar aparente; que o fazem ser um rei prepotente na vida encarnada; mas o rebaixam a um reles mendigo andrajoso, nos umbrais infernais da ínfima vida desencarnada. Todavia, quando falo que há mais paz nos campos, não é porque essa paz campesina esteja deveras consolidada; não é porque alguma gente moradora nos campos, não haja de algum modo com violência; não é porque no interior tosco das casas campestres, a violência não predomine entre as gentes com almas ainda inferiores; já que o mal (tão forte, mas tão efêmero em quem o cultiva, não é tão sólido e tão poderoso quanto o bem eterno em quem deseja cultivá-lo), se alastra desumanamente impiedoso, tanto nos campos quanto nas cidades, mediante as ações perniciosas dos homens, que continuam a nutrir-se dos males de suas consciências imorais; mas se o mal ainda age com fingida sedução, nas consciências dos homens que moram nas cidades e nos campos, é porque o bem até então, não lhe prevalecem interiormente; é porque o bem até agora, não tem força suficiente para embelezar com amor, as interioridades impuras. Se um homem ou uma mulher, em gesto tão raro (numa mansão urbana ou num casebre campesino), se contentam enlevados em contemplar a beleza singela de um ramalhete de flores naturais (sem tocá-las ou cheirá-las), é porque as tocam e as cheiram somente com as sensibilidades de suas energias fluídicas interiores, que se irradiam pacíficas (e não violentas), por entre o aspecto formoso das flores, gerando a interação harmoniosa benévola, entre as energias humanas e vegetais. Sim, é verdade! Há mais paz nos campos do que nas cidades, não só porque nos campos tem menos gente para divergir em diversos conflitos existenciais; mas também porque os campos, com toda harmonia silvestre dos elementos naturais, simbolizam a paz esperada por Deus entre os homens que vivenciam constantes desarmonias sócias afetivas. A paz suprema deve existir sempre, a partir da unidade harmônica do homem consigo, com o próximo e com a natureza; e não a partir das ações violentas do homem destruindo a si, o próximo e os elementos naturais; desmatando, poluindo e artificializando a natureza, produzindo desequilíbrio desastroso em todo o ecossistema. Como conseguimos, enfim, a paz essencial? Quando plantamos, colhemos e ingerimos os alimentos sem agrotóxicos e adubos químicos; quando preservamos a fauna em seu habitat natural; quando conservamos a flora garantindo qualidade de vida ambiental; quando estimulamos o desenvolvimento sustentável visando equilíbrio entre o homem e as condições ambientais que o cercam; quando promovemos a igualdade social; quando libertamos a consciência das várias formas de preconceitos; quando combatemos os defeitos morais que inferiorizam a consciência; quando eliminamos os vícios mundanos que lesam a organização física e espiritual; quando plantamos na consciência e semeamos no próximo, o amor e o bem edificantes, para que a paz fundamental predomine todo tempo nas ações sócias ambientais diárias dos homens rurais e urbanos de boa vontade; quando amamos, respeitamos e compreendemos o próximo, conforme as Leis Naturais e Morais de Deus!
 
Escritor Adilson Fontoura




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