“Toda a paz da Natureza sem gente vem
sentar-se a meu lado.” ALBERTO CAEIRO.
Eu sei que a paz que há nos campos, não é a mesma paz que há nas
cidades; porque há mais paz onde tem menos gente; e há menos paz onde tem mais
gente; há mais paz onde Deus simboliza o natural; e há menos paz onde Deus
simboliza o artificial; visto que, nos campos toda gente se nutre apenas do
simples viver; ao contrário das cidades, onde toda gente se ilude com a vida
luxuosa, tão cheia dos vícios e prazeres vãos mundanos. Por isso que a vida nos
campos é mais pacífica, sendo o oposto da vida nas cidades, já tão violenta;
quão bom seria se o cidadão urbano pudesse andar pelas ruas e avenidas sem
preocupar-se com a ação maléfica do seu semelhante; porquanto nos campos, o
camponês anda tranquilo, léguas e léguas, sem ser importunado ou violentado por
qualquer ato nocivo que lhe ceife a vida pacata e simples de vivência rural;
convicto de que pode confiar em quem anda ao seu lado, ou em quem anda em
sentido contrário, como se lhe viesse ao encontro, mas que passa bem sossegado,
e lhe ostenta um suave sorriso com uma gentil saudação. Parece que o homem,
quanto mais se moderniza, mais também se brutaliza seduzido pelas ambições materiais;
que o tornam feliz ilusoriamente; que o tornam egoísta em demasia, quando busca
a si os bens materiais que lhe trazem um bem-estar aparente; que o fazem ser um
rei prepotente na vida encarnada; mas o rebaixam a um reles mendigo andrajoso,
nos umbrais infernais da ínfima vida desencarnada. Todavia, quando falo que há
mais paz nos campos, não é porque essa paz campesina esteja deveras
consolidada; não é porque alguma gente moradora nos campos, não haja de algum
modo com violência; não é porque no interior tosco das casas campestres, a
violência não predomine entre as gentes com almas ainda inferiores; já que o
mal (tão forte, mas tão efêmero em quem o cultiva, não é tão sólido e tão
poderoso quanto o bem eterno em quem deseja cultivá-lo), se alastra
desumanamente impiedoso, tanto nos campos quanto nas cidades, mediante as ações
perniciosas dos homens, que continuam a nutrir-se dos males de suas
consciências imorais; mas se o mal ainda age com fingida sedução, nas
consciências dos homens que moram nas cidades e nos campos, é porque o bem até
então, não lhe prevalecem interiormente; é porque o bem até agora, não tem
força suficiente para embelezar com amor, as interioridades impuras. Se um
homem ou uma mulher, em gesto tão raro (numa mansão urbana ou num casebre
campesino), se contentam enlevados em contemplar a beleza singela de um
ramalhete de flores naturais (sem tocá-las ou cheirá-las), é porque as tocam e
as cheiram somente com as sensibilidades de suas energias fluídicas interiores,
que se irradiam pacíficas (e não violentas), por entre o aspecto formoso das
flores, gerando a interação harmoniosa benévola, entre as energias humanas e
vegetais. Sim, é verdade! Há mais paz nos campos do que nas cidades, não só
porque nos campos tem menos gente para divergir em diversos conflitos
existenciais; mas também porque os campos, com toda harmonia silvestre dos
elementos naturais, simbolizam a paz esperada por Deus entre os homens que
vivenciam constantes desarmonias sócias afetivas. A paz suprema deve existir
sempre, a partir da unidade harmônica do homem consigo, com o próximo e com a
natureza; e não a partir das ações violentas do homem destruindo a si, o
próximo e os elementos naturais; desmatando, poluindo e artificializando a
natureza, produzindo desequilíbrio desastroso em todo o ecossistema. Como
conseguimos, enfim, a paz essencial? Quando plantamos, colhemos e ingerimos os
alimentos sem agrotóxicos e adubos químicos; quando preservamos a fauna em seu
habitat natural; quando conservamos a flora garantindo qualidade de vida
ambiental; quando estimulamos o desenvolvimento sustentável visando equilíbrio
entre o homem e as condições ambientais que o cercam; quando promovemos a
igualdade social; quando libertamos a consciência das várias formas de
preconceitos; quando combatemos os defeitos morais que inferiorizam a
consciência; quando eliminamos os vícios mundanos que lesam a organização
física e espiritual; quando plantamos na consciência e semeamos no próximo, o
amor e o bem edificantes, para que a paz fundamental predomine todo tempo nas
ações sócias ambientais diárias dos homens rurais e urbanos de boa vontade;
quando amamos, respeitamos e compreendemos o próximo, conforme as Leis Naturais
e Morais de Deus!
Escritor Adilson Fontoura
Nenhum comentário:
Postar um comentário